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segunda-feira, 23 de abril de 2012

REVISTA DOMÍNIOS "ABRA SEU CORAÇÃO PARA A ADOÇÃO"

Fonte: participação de Alexandre Caprio no artigo "Abra seu coração para a adoção", jornalista Cris Oliveira, publicado pela Revista Domínios, edição abril/2012, páginas 14/18.

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Abra seu coração para a adoção


"QUANDO SE É CAPAZ DE LUTAR POR ANIMAIS, TAMBÉM SE É CAPAZ DE LUTAR POR CRIANÇAS E IDOSOS. NÃO HÁ BONS OU MAUS COMBATES, APENAS O HORROR AO SOFRIMENTO IMPOSTO AOS MAIS FRACOS, QUE NÃO PODEM SE DEFENDER." BRIGITE BARDOT

por: Cris Oliveira
Sábia Brigite. É exatamente assim que deve, ou pelo menos deveria ser. Uma sociedade responsável e ética é capaz de cuidar de suas crianças e de seus animais. Infelizmente nem sempre ela se mostra assim. É diante disso que se iniciam as polêmicas. Por que adotar um animal e não uma criança? Por que os animais ganham tanto destaque na mídia, e em redes sociais, quando são vítimas de maus tratos e abandono? Será que as pessoas desistiram da sua raça? Mas afinal, caro leitor, você tem compromisso com os seres vivos que te cercam? Adotaria? Um animal ou uma criança? Por quê?
A adoção de um animalzinho de estimação ou de uma criança se origina de uma motivação do indivíduo. Determinar um padrão para tais motivações é difícil. A personalidade, conceito e percepção que temos do mundo é diferente da de outros membros de nossa espécie. Somos únicos e nossa forma de pensar também é.
Para o psicólogo cognitivo comportamental, Alexandre Caprio, a adoção vem atender a um desejo de uma pessoa ou um casal. Ele surge da dificuldade em se conceber um filho biológico ou da vontade de oferecer a uma criança, abandonada, um futuro melhor. "Em casos onde a concepção não foi possível, o casal busca crianças recém-nascidas, com semelhanças físicas. A função é substitutiva, porque a adoção não aconteceria se as condições físicas dos pais permitissem. Quando se busca fazer a diferença na vida de uma criança, a motivação é bem diferente. Mas ambos se igualam em um aspecto: a responsabilidade de educar e formar uma criança, integrando-a como membro da família, perante a justiça e a comunidade", pontua.
Alexandre esclarece que a adoção de um animalzinho de estimação não segue um princípio de responsabilidade diferente. "A partir do momento em que uma pessoa se responsabiliza pela vida de outro ser, deve assumir esse compromisso com a seriedade necessária. Isso significa assumir cuidados em relação à sua saúde e segurança. Muitas pessoas soltam seus cães e gatos para 'dar uma voltinha' pelas redondezas. Esse gesto coloca a vida do animal e das pessoas em risco. As pessoas permitem a saída do animal, mas jamais a saída desassistida de uma criança. Nota-se claramente que, para grande parte das pessoas, há uma distinção da vida do homem e do animal. Isso tem gerado debates violentos, cujo palco central é a internet", ressalta.
Porém, o mais grave é que muitas pessoas não admitem que o ideal de outras seja cuidar de animais ao invés de crianças. "Cada um deve seguir seu objetivo de vida, seus sonhos e metas. Mas, acima de tudo, compreender e respeitar a opinião do outro que também deseja, de alguma forma, fazer o bem. Somente quando pararmos de agredir ou violentar aquele que pensa de uma forma diferente da nossa, é que poderemos ter autoridade para falar de paz, amor e valor à vida", esclarece o psicólogo.
Crianças
Para adotar uma criança é preciso que a pessoa tenha preparo material, psicológico, social, familiar e emocional, já que depois de concluído, o processo é irreversível. Os interessados passam por estudos psicossociais. Qualquer pessoa que tenha mais de 18 anos pode adotar, independentemente do estado civil, devendo ser, no mínimo, dezesseis anos mais velha que a criança. Para tanto, deve se cadastrar na Justiça da Infância e Juventude e aguardar a fila.
"A falta de recursos materiais pode não ser motivo para destituir o poder familiar dos pais e, no caso, a assistência social do município deve ser acionada. Mas, quando se trata de adoção, a prioridade está nas reais vantagens que os adotantes podem proporcionar à criança, em todos os sentidos", explica Cláudio Santos de Moraes, promotor de justiça da Infância e da Juventude.
Ele informa que, atualmente, há cerca de 60 crianças e adolescentes acolhidos, mas poucos estão em condições de serem adotados. Isso porque, a maioria foi acolhida tardiamente, depois de seis anos de idade, faz parte de grupos de irmãos, alguns da raça negra ou portadores de doença incurável e, por isso, não despertam o interesse dos 120 casais cadastrados para adoção, e mais uns oito solteiros.
As preferidas são crianças de até três ou quatro anos, e que sejam saudáveis.
Em Rio Preto, crianças e adolescentes acolhidos ficam abrigadas em casas lares, sob a responsabilidade de mães sociais através do Projeto Teia. Também existem as famílias acolhedoras, que acolhem até duas crianças ou adolescentes em suas próprias casas, mediante auxílio do Projeto. "O objetivo é justamente o de dar um ambiente bem próximo do familiar, afastando a ideia de orfanato, que, aliás, não temos na comarca", completa o promotor.
Quando perguntado sobre a diferença de criar uma criança e um animalzinho abandonado, Cláudio Moraes é categórico. "É lógico que tem diferença. Embora passemos a nutrir carinho e amor pelos dois, a situação é totalmente diferente. A intensidade do sentimento varia muito de uma pessoa para outra. Mas, criar um animal de estimação é muito mais fácil. Ele está para obedecer ao dono e não dá tanta preocupação como uma criança, que tem vontade própria cada vez maior e, na maioria das vezes, irá divergir de seus responsáveis."

"CADA UM DEVE SEGUIR SEU OBJETIVO DE VIDA, SEUS SONHOS E METAS. MAS, ACIMA DE TUDO, COMPREENDER E RESPEITAR A OPINIÃO DO OUTRO "

Animais
Por outro lado, todos os dias muitos animais são abandonados nas ruas de Rio Preto. "O número de animais resgatados por protetores e grupos de proteção não equivale à quantidade que é abandonada ou maltratada, e isso nos dá a impressão de estar realizando um trabalho em vão. Enquanto não houver trabalhos de conscientização, apoio municipal, posse consciente e castração, teremos sempre esse problema", lamenta Cláudia De Giuli, protetora de animais.
Depois de feita a adoção, muita gente acada devolvendo o bichinho. Isso porque a pessoa olha apenas a beleza do animal, e quando começa a conviver vê que ele não tem o comportamento que esperava, e acaba devolvendo-o.
Os animais resgatados ficam em lares de passagens, ou lares temporários. São casas de pessoas que cedem um cantinho para abrigá-los, até a adoção. Nesses casos eles são bem tratados, recebem carinho e atenção. Os que não conseguem ser adotados, geralmente ficam com os próprios protetores, por isso, na maioria das casas, há uma quantidade de animais relativamente alta.
Assim como no caso das crianças, existe um perfil preferido na hora da adoção. "Os mais peludinhos, pelagem colorida, porte pequeno e mestiços de alguma raça são os preferidos. Animais de porte médio, de cores escuras, sem raça definida demoram meses para serem adotados", conta a protetora.
Quem tem interesse em adotar deve procurar o Centro de Zoonoses ou grupos de proteção, em sua cidade. No momento da adoção é feita uma entrevista com os adotantes, que pode ser através de um bate-papo despercebido, ou de forma documental, além do termo de adoção.
Para Cláudia, não existe a mesma conscientização das pessoas ao adotarem uma criança ou um animal. "Ao adotar uma criança a pessoa convive com ela antes, acompanha por algum tempo. Está ciente dos gastos que virão e que terá uma pessoa que dependerá dela para o resto da vida. Reserva um espaço na casa para ela. Com animais isso não ocorre, há adoções por impulso. Adotam filhotes por acharem fofos, esquecem que eles vivem cerca de 13(cães), 17 (gatos) anos. Esquecem que há gastos com ração, veterinário, acessórios. Não há qualquer planejamento."
Ela adotou
"Penso que essa questão nem deveria ser levantada, afinal são duas coisas totalmente diferentes. Como cristã, sei diferenciar entre os dois seres, mas também sei que, no amor e respeito, em nada diferem. Diferem apenas na dedicação e responsabilidades envolvidas.
Adotar uma criança implica em muito mais. Não basta dar ração, banho, carinho. Seres humanos carecem de educação que forme o caráter, que aprenda valores. Humanos têm o dom da fala, e filho cobra, questiona. Desnecessário dizer que com os bichos não é assim. Mas é exatamente por isso que devemos protegê-los; falar por eles.
Penso que quem tem amor para dar não precisa passar por essa 'escolha', é possível fazer as duas coisas. Eu fiz e não me arrependo. Tenho uma filha adotiva que hoje está com 25 anos. Uma moça linda, cheia de virtudes, que nos enche de orgulho. E muitos bichos de estimação que eu costumo chamar de 'minha família animal'.
Quanto à adoção da minha filha, eu e meu marido a conhecemos num hospital gravemente doente. Tinha seis meses e fora abandonada pela mãe biológica. Decidimos adotá-la porque ela adentrou nas nossas vidas de maneira irreversível desde o primeiro momento em que a vimos, mas já tínhamos um casal de filhos biológicos.
De lá pra cá muitas coisas aconteceram. Nossa batalha foi grande e penosa. Ela passou por oito intervenções cirúrgicas e dezenas de internações. Ainda aguarda por um transplante de rim. Atravessamos momentos difíceis e o pior de todos foi a recusa da mãe biológica em doar um rim para ela.
Evidentemente que valeu a pena. Hoje ela está formada e já cursa a segunda faculdade. Nunca reprovou, apesar das inúmeras faltas por causa do tratamento.
Sou totalmente a favor da adoção de seres de qualquer espécie. Só acho que devemos prestar mais atenção na falta de coerência. Vejo campanhas para recolher os animais abandonados, mas ainda não vi tal mobilização para 'resgatar' uma criança que está na rua consumindo crack. Também nunca vi uma campanha para conscientizar os casais que não podem ter filhos a optarem pela adoção e não pela inseminação artificial.
Admiro as pessoas engajadas em causas em prol dos animais, só gostaria que fôssemos menos omissas com nossas crianças. Também gostaria que as pessoas que pagam as tufas em dólares por um cãozinho, não virassem a cara quando passam diante de um cão faminto e sarnento." - Sueli Gallacci, artista plástica.

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