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quinta-feira, 14 de março de 2019

TIROS EM SUZANO

Psicólogo cognitivo-comportamental - Alexandre Caprio




Os Estados Unidos detém o maior registro de ataques a escolas atualmente. A tragédia ocorrida nessa manhã do dia 13 em Suzano é um alerta para o Brasil no que se refere à saúde mental, formação familiar e educação de crianças e adolescentes. 

São muitos os pais que dão aos filhos privacidade em acessos de conteúdos para, em troca, estabelecerem uma relação de confiança e amizade. Por conta disso, e muitas vezes até mesmo com a aprovação destes pais, menores de idade acessam, cada vez mais, conteúdos impróprios para sua fase de desenvolvimento. Assim como cinema, teatro, TV, exposições, revistas e internet, os jogos eletrônicos possuem classificação de idade e avisos de conteúdo de violência. Mesmo assim, crianças têm acessado e jogado tais materiais livremente online. Os games PlayerUnknown’s Battlegrounds e Fortnite são exemplos de games com elementos muito similares ao ataque ocorrido na Escola Estadual Professor Raul Brasil. O uso de roupas pretas, máscaras, machado, coquetel molotov, besta e outros acessórios indicam que os assassinos não queriam simplesmente eliminar as pessoas com armas, mas reproduzir uma perseguição mais elaborada e menos eficiente que a mera utilização de armas de fogo. Isso indicaria uma possível inspiração nessa modalidade de jogo online onde vários participantes são inseridos em um território com ampla variedade de armas e explosivos para se eliminarem até que reste apenas um vencedor. 

Além da possível inspiração em jogos inadequados para essa faixa etária, deve-se observar a saúde mental dos indivíduos que praticaram tal ato. Uma vez que o adolescente não tenha habilidades para lidar com os desafios de seu desenvolvimento ou simplesmente com os grupos sociais ao seu redor, sentimentos como raiva podem gerar impulsos agressivos. Se esses impulsos se somam aos estímulos obtidos com os materiais inapropriados que ele consome, o indivíduo pode planejar um ato de retaliação ou vingança como o que vimos em Suzano. Por isso, é imprescindível que a polícia investigue o histórico de saúde mental dos jovens que praticaram tal crime, assim como a possível prática de bullying dentro das dependências da escola. Dicas de que os assassinos apresentavam possíveis problemas de autoestima, traços de agressividade e transtorno de conduta podem estar contidas nas imagens que eles ostentavam em redes sociais. As armas que empunhavam e apontavam nas fotos postadas podem revelar uma estratégia para compensar uma sensação de inferioridade. Outras, em que apontam as armas para as próprias cabeças também podem revelar as intenções suicidas de quem já planejava o ataque e dava dicas disso.

A tragédia nos força a reavaliar, não só os conteúdos que nossos jovens acessam livremente hoje, mas também nos leva a repensar o acompanhamento da saúde mental de nossas crianças e adolescentes. As pastas da educação, assistência social e saúde devem, através de convênios e parcerias, buscarem, juntas, soluções para minimizar a violência que ocorre na tela do celular, no monitor do notebook e no pátio da escola. Trata-se de uma rede de estímulos e agressões que continuará se alastrando em nossa comunidade a não ser que criemos soluções francas e com ampla participação de nossos jovens. E esses resultados só serão conquistados quando pararmos de ouvir desinteressadamente o que eles dizem e passarmos a escutá-los.

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